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Tengri e o Xamanismo Mongol

Tengri

Tengri (turco antigo: Old Turkic letter I.svgOld Turkic letter R2.svgOld Turkic letter NG.svgOld Turkic letter T2.svg; em turco: Tanrı; proto-turco *teŋri / *taŋrɨ; alfabeto mongol: ᠲᠨᠭᠷᠢ – Tngri; mongol: Тэнгэр – Tenger) é um dos nomes da divindade principal da religião dos primeiros povos túrquicos (xiongnu, hunos, protobúlgaros) e mongóis (xianbei).

A devoção a Tengri é por vezes chamada de Tengriismo, cujas divindades principais são o Pai Céu (Tengri/Tenger) e Mãe Terra (Eje/Gazar Eej) e que mistura princípios de xamanismo, animismo, totemismo e culto aos ancestrais.

Nome

Tengri no alfabeto turco antigo (escrito da direita para a esquerda como t²ṅr²i)

A mais antiga forma do nome está preservada nos anais chineses do século IV a.C. numa descrição das crenças dos xiongnu e aparece como 撑犁/Cheng-li, que se supõe ser uma transcrição para o chinês de Tängri[a]. Stefan Georg (2001) sugeriu uma origem ienisseiana primordial, derivada de *tɨŋgVr- (“alto”). Alternativamente, uma etimologia altai reconstruída a partir de *T`aŋgiri (“juramento” ou “deus”), enfatiza a divindade ao invés de o seu domínio sobre o céu[1].

A forma turca, Tengri, foi atestada no século XI por Mahmud al-Kashgari. No turco moderno, a palavra derivada Tanrı é utilizada genericamente para “deus” ou para o Deus abrâmico, e é costumeiramente utilizada pelos muçulmanos turcos para se referir a Deus em turco como uma alternativa ao termo árabe Alá.

História

Selo numa carta de Guiuque Cã ao papa Inocêncio IV em 1246. As primeiras quatro letras, de cima para baixo, da esquerda para a direita, devem ser lidas como “möngke ṭngri-yin küčündür” – “sob o poder do céu eterno”.

Tengri era o deus nacional dos goturcos, chamado de “deus dos turcos” (Türük Tängrisi)[2]. Os clãs goturcos baseavam seu poder num mandato de Tengri e eram geralmente aceitos como filhos do deus e seu representante na terra. Eles utilizavam títulos como tengricute, kutluġ ou Cutalmixe baseados na crença de que eles detinham o kut, o poderoso espírito concedido a eles por Tengri[3].

Tengri era também a principal divindade adorada pela classe governante dos povos das estepes centro-asiáticas entre os séculos VI e IX (povos turcos, mongóis e magiares)[4]. Porém, ele perdeu importância quando o grão cãs uigures proclamaram o maniqueísmo como a religião estatal no século VIII[5].

Mitologia

Tengri era o principal deus do panteão turco e controlava a esfera celeste[6], compartilhando características com o deus do céu indo-europeu *Dyeus, cuja religião reconstruída é mais parecida com a dos primeiros turcos do que com a de qualquer outro povo do Oriente Médio ou da região do Mediterrâneo[7].

O mais importante testemunho contemporâneo da adoração a Tengri são as Inscrições de Orcom, em turco antigo, do século VIII. Escritas no alfabeto de Orcom, estas inscrições preservam um relato das origens mitológicas dos turcos. Dedicadas a Kul Tigin, elas incluem passagens (na tradução do Comitê de Linguística do Ministério da Cultura e Informação da República do Cazaquistão[8]) como:

“Quando o céu azul [Tengri] acima e a terra marrom abaixo foram criados, entre eles um homem foi criado. Sobre os seres humanos, meus ancestrais Bumim e Istemi governaram. Eles governaram as pessoas pelas leis turcas, eles as lideraram e venceram”(face 1, linha 1)
“Tengri cria a morte. Todos os seres humanos foram criados para morrer”(face 2, linha 9)
“Você morreu (lit.: ‘saiu voando’) até que Tengri lhe dê a vida novamente”(face 2, linha 14)

A Religião dos Antigos Turcos

Antes de continuarmos a falar sobre os acontecimentos posteriores a fundação do Sultanato de Rum, dissemos acima que por volta dos séculos VIII até os fins do século X os turcos começaram a se converter a religião islâmica. Porém qual religião os turcos seguiam antes?

Não apenas os turcos, mas todos os povos túrquicos (nômades originários das estepes da Ásia Central) como cazares, ávaros, mongóis, búlgaros e outros seguiam uma religião antiga conhecida como Tengrismo (ou Tengriismo ou Tengrianismo). O termo tengri em turco antigo faz referência ao céu, portanto resumidamente a religião pode ser chamada de “adoração ao céu”, porém ela vai um pouco mais a fundo do que isso.

        O nome Tengri aparece pela primeira vez nas crônicas chinesas do século IV a.C, normalmente se referindo ao culto dos Gokturcos (proto-turcos) ao céu. Durante o Khanato Uyghur (744 – 840) que governou a região onde hoje é a parte oriental da Rússia, esse reino compilou as crenças do tengrismo num livro chamado Irk Bitig [10], fazendo com que suas crenças chegassem até os dias atuais. A maioria dos povos turquicos começou a abandonar o tengrismo na mesma época, porém os mongóis continuaram a praticar a religião em seu modo mais antigo até meados do século XIII, quando começaram a se converter ao budismo. Algumas poucas pessoas dentro das tribos continuaram a praticar a religião, o que fez com que ela sobrevivesse até os dias atuais. Hoje há comunidades tengristas principalmente no Uzbequistão, Tajiquistão, e a maior se encontrando no Quirguistão.

Tradicionalmente o tengrismo é uma religião politeísta, nela Kok Tengri (o céu) aparece como entidade criadora e bemfeitora, e o deus Uçmag (lê-se Utmag) como entidade maligna, algo muito parecido ao zoroastrismo. Porém outros deuses também aparecem em suas histórias como Umay, a deusa da fertilidade e virgindade; Od Tengri, o deus do tempo; Mergen, o deus da inteligência; Erlik Han (ou Khan), o deus do submundo; Ay Dede, o deus da lua; Gun Ana, a deusa sol; Kerey Han, o deus da discórdia; e Alaz, o deus do fogo [11].

Apesar de seu caráter politeísta, após o século X ela começa a sofrer influência do islamismo, e começa a se transformar em monoteísta transformando a maioria desses deuses em sub-entidades e adorando apenas a Tengri, tanto que os praticantes dessa religião hoje apresentam a religião como monoteísta, apesar de algumas tribos a praticarem em sua forma original. O tengrismo influênciou também o sábio sufi turco chamado Bektash Veli (1209 – 1271) cujos ensinos misturados a sufismo e xiismo deram orígem ao Alevismo, muito praticado na Turquia atual [12], a exemplo sua dança circular tradicional (semah) é o momento no qual eles acreditam poder se unir aos céus (Tengri) [13].

Bibliografia:

[10] TEKIN, Talat. Irk Bitig: The Book of Omens. Wiesbaden: Harrassowitz. 1993.

[11] HEISSIG, Walter. The Religions of Mongolia. 2000.

[12] MOOSA, Matti. Extremist Shiites: The Ghulat Sects. Siracusa: Syracuse University Press. 1987. Capítulo 2.

[13] Idem 12. Capítulo 37.

 

Notas

[a] ^ A forma proto-turca da palavra foi reconstituída como *Teŋri ou *Taŋrɨ.)[2]

Referências

  1.  Sergei Starostin, Altaic etymology
  2. ↑ Ir para:a b Jean-Paul Roux, Die alttürkische Mythologie, p. 255
  3.  Käthe Uray-Kőhalmi, Jean-Paul Roux, Pertev N. Boratav, Edith Vertes. “Götter und Mythen in Zentralasien und Nordeurasien“; section: Jean-Paul Roux: “Die alttürkische Mythologie” (“Old Turkic Mythology”) ISBN 3-12-909870-4
  4.  Yazar András Róna-Tas , Hungarians and Europe in the early Middle Ages: an introduction to early Hungarian history, Yayıncı Central European University Press, 1999, ISBN 978-963-9116-48-1p. 151.
  5.  Buddhist studies review, Volumes 6-8, 1989, p. 164.
  6.  Abazov, Rafis. “Culture and Customs of the Central Asian Republics“. Greenwood Press, 2006. page 62
  7.  Mircea Eliade, John C. Holt, Patterns in comparative religion, 1958, p. 94.
  8.  Inscrições de Orcom

References

  • Brent, Peter. The Mongol Empire: Genghis Khan: His Triumph and his Legacy. Book Club Associates, London. 1976.
  • Sarangerel. Chosen by the Spirits. Destiny Books, Rochester (Vermont). 2001
  • Schuessler, Axel. ABC Etymological Dictionary of Old ChineseUniversity of Hawaii Press. 2007.
  • Georg, Stefan. „Türkisch/Mongolisch tängri “Himmel/Gott” und seine Herkunft“, “Studia Etymologica Cracoviensia 6, 83-100
  • Bruno J. Richtsfeld: Rezente ostmongolische Schöpfungs-, Ursprungs- und Weltkatastrophenerzählungen und ihre innerasiatischen Motiv- und Sujetparallelen; in: Münchner Beiträge zur Völkerkunde. Jahrbuch des Staatlichen Museums für Völkerkunde München 9 (2004), S. 225–274.
  • Yves Bonnefoy, Asian mythologies, University of Chicago Press, 1993, ISBN 978-0-226-06456-7p. 331.

Ligações externas

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