As 36 Estratégias Secretas Chinesas
A China tem mais de 5 mil anos de história, e muito desta história é de guerras.
O tratado chinês de guerra mais conhecido é a fabulosa “A Arte da Guerra”, de Sun Tzu, entretanto, não é o único. Muito pelo contrário, há vários tesouros escondidos…
O livro “36 estratégias secretas de guerra” é uma valiosa compilação de vários ensinamentos de guerra. O autor desta obra é desconhecido, assim como o período em que foi escrito, e também há mais de uma versão deste tratado.
O número 36 não é por acaso.
Seis multiplicado por seis dá 36, na aplicação da estratégia, é necessário cálculo cuidadoso, e através dos padrões, a pessoa encontrará a estratégia (1).
Comumente, divide-se os 36 estratagemas em 6 grupos de 6, mostrados a seguir.

Segue a seguir um resumo das estratégias.
Estratégias vantajosas (1 a 6)

1 – Enganar os céus para atravessar o oceano. A origem é uma história em que um exército temia atravessar o oceano. Um conselheiro bolou um plano: combinou uma grande festa com um homem rico, e o exército inteiro se embebedou na casa deste. Quando esses acordaram, viram que a casa do homem rico era um barco, e que estavam no meio do oceano! A estratégia significa criar algo falso para distrair o inimigo, e atingir o objetivo sem que o mesmo perceba.
2 – Sitiar Wei para salvar Zhao. O exército de Wei atacou, venceu e sitiou o estado de Zhao. O exército de Qi, aliado da cidade sitiada, veio em socorro a Zhao. Mas isto significava batalhar diretamente com o poderoso exército Wei. Entretanto, ao invés disso, marcharam em direção à cidade de Wei, que estava desprotegida de seu exército. Assim que isto ficou claro, o exército de Wei teve que retornar à sua base, as pressas. Zhao foi libertada sem batalha alguma! A estratégia significa evitar o ponto forte do inimigo, e atacar o ponto fraco.

3 – Matar alguém com uma faca emprestada. Quando não se tem força suficiente para se opor ao inimigo, utilizar a força de aliados ou de grupos para tal. Induzir alianças para destruir o inimigo.
4 – Poupar energia enquanto o inimigo se cansa. Saber quando utilizar o tempo e o espaço corretos. Um exemplo é chegar cedo ao palco da batalha, escolher o melhor lugar – que tenha a vantagem natural da altura e do espaço de manobra – e esperar o inimigo vir lutando contra o tempo e contra o terreno.
5 – Saquear uma casa em chamas. Aproveitar a oportunidade de saquear um lugar quando há caos e confusão. Quando o inimigo está numa grande crise, este é o momento para atacar.
6 – Simular um ataque ao leste, mas atacar a oeste. A dissimulação está na essência da estratégia. O inimigo não pode concentrar forças em todos os lugares. A estratégia consiste em ocultar as suas verdadeiras intenções e fazer o inimigo concentrar forças no local errado.
Estratégias Oportunistas (7 a 12)

7 – Criar algo do nada. Uma sucessão de blefes pode dar certo, se os atores envolvidos acreditarem neste. Um bom exemplo é a história (fictícia) do genro do Bill Gates:
Pai: – Filho, escolhi uma ótima moça para você casar.
Filho: – Mas pai, eu prefiro escolher a minha mulher.
Pai: – Ela é filha do Bill Gates…
Filho: – Bem, neste caso, eu aceito.Então, o pai vai encontrar o Bill Gates.
Pai: – Bill, eu tenho o marido para a sua filha!
Bill Gates: – Mas a minha filha é muito jovem para casar!
Pai: – Mas este jovem é vice-presidente do Banco Mundial…
Bill Gates: – Neste caso, tudo bem.
Finalmente, o pai vai ao Presidente do Banco Mundial.
Pai: – Senhor Presidente, eu tenho um jovem muito bem recomendado para ser vice-presidente do Banco Mundial.
Pres. Banco Mundial: – Mas eu já tenho muitos vice-presidentes.
Pai: – Mas senhor, este jovem é genro do Bill Gates.
Pres. Banco Mundial: – Neste caso ele pode começar amanhã mesmo!
8 – Fuga secreta por Chen Can. Atingir o inimigo pela retaguarda, onde ele estiver desprotegido, e de forma inesperada. Esta estratégia deriva de uma história de Lui Bang, 200 a.C., que viria posteriormente a ser imperador da China. O exército de Liu Bang estava em retirada, e mandou destruir todas as pontes que acessavam o seu acampamento. Meses depois, ele ordenou que reconstruíssem as pontes. O inimigo, desconfiado, passou a se preparar para um ataque iminente pela pontes. Mas, para surpresa do inimigo, Liu Bang utilizou a passagem secreta de Chen Can, contornando as montanhas por um longo caminho, para um ataque-surpresa.
9 – Observar o fogo do outro lado do rio. Quando houver desordem e lutas internas entre as forças do inimigo, deve-se esperar enquanto este se enfraquece.
10 – Uma adaga atrás de um sorriso. Conquistar a confiança do inimigo, para desarmá-lo. O que parece fraco (macio) por fora, pode ser forte (duro) por dentro.
Na Arte da Guerra de Sun Tzu, há uma frase memorável a respeito:
Quando capaz, finja incapacidade; quando ativo, finja inativo. Quando perto do objetivo, finja estar muito longe; quando muito longe, faça com que pareça perto.
11 – A ameixeira morre no lugar do pessegueiro. Fazer sacrifícios quando perdas são inevitáveis. É o popular “perder os anéis para salvar os dedos”. O poema significa que essas duas árvores são tão íntimas que uma está disposta a morrer pela outra.
12 – Roubando um bode pelo caminho. Aproveitar uma oportunidade de ganho fácil, por menor que seja. Aproveitar as vantagens que surgem pelo caminho.
Estratégias Ofensivas (13 a 18)

13 – Bater no capim para assustar a cobra. Ao invés de capturar a cobra, deve-se assustá-la dando batidas no capim, e fazer a captura quando ela aparecer. É uma estratégia ofensiva, para fazer o inimigo revelar as cartas que tem na manga. Um exemplo é fazer um lance inicial alto num leilão, para testar quem quer realmente bancar a concorrência.
14 – Tomar um cadáver emprestado para ressuscitar uma alma. Uma pessoa fraca pode requerer sua assistência para ficar forte e conseguir se opor ao inimigo. Por outro lado, mesmo o exército forte precisa da ajuda de vários exércitos fracos para chegar aos seus objetivos.
15 – Atrair um tigre para fora de sua toca. Um tigre é muito forte em seu estado natural, mas vai se retrair em ambiente desconhecido.
Uma estratégia de negociação é chamar o outro lado para uma reunião, e colocar muita gente do seu time por muito tempo para fazer pressão em cima do oponente.
Para quem gosta de futebol, um tigre fora de sua toca é como jogar fora de casa, com a torcida contra, com os gandulas contra, com todo o ambiente desfavorável.
16 – Soltar um inimigo para recapturá-lo depois. Há situações em que é melhor não encurralar o inimigo, e sim soltar e perseguir de perto até este se cansar.
Numa pescaria, puxar bruscamente o peixe vai fazer a linha arrebentar. É melhor tensionar e liberar seguidas vezes, até o peixe esgotar suas forças.
17 – Dar tijolo para obter jade. Abrir mão de algo de pouco valor, para obter algo de muito valor. O comércio tem dezenas de casos assim: itens grátis para degustação (que levam a compra por impulso ou retribuição), compras com “frete grátis”, desconto ao comprar mais de um produto, ganhar de brinde algum produto encalhado, etc…
18 – Capturar o líder dos bandidos. Quando o centro de gravidade orbitar fortemente no líder, e este for capturado, a organização toda irá desmoronar.
Estratégias de Confusão (19 a 24)

19 – Tirar a lenha de debaixo do caldeirão. Ao invés do confronto direto, utilizar táticas para minar a moral do inimigo. A estratégia vem da seguinte frase.
Retire a lenha, para evitar que a água ferva, corte a grama destruindo as raízes.
História: o grande Confúcio era conselheiro do imperador de Lu, o que fazia com que este tivesse força e sabedoria. A fim de atacar Lu, o inimigo primeiramente tirou Confúcio da jogada. Ele fez oferendas de ouro, presentes, bebidas, cavalos e oitenta beldades para o imperador de Lu. Este aceitou as oferendas e passou a levar uma vida de libertinagem, ignorando Confúcio, que pediu exoneração do cargo meses depois. Sem a sabedoria de Confúcio, o império Lu foi facilmente manipulado e conquistado, anos depois.
20 – Tornar as águas turbulentas para pegar um peixe. Fazer um lamaçal para o peixe ficar confuso e capturá-lo. Um exército confuso proporciona a vitória ao inimigo.
Algumas dicas para evitar a confusão:
- Canais de comunicação eficientes
- Procedimentos claros
- Feedback preciso
21 – Mudar de pele como uma cigarra dourada. Escapar sem ser percebido, como a cigarra que muda de pele. Adaptar-se à mudanças que ocorrem constantemente no meio-ambiente.
22 – Fechar as portas para pegar o ladrão. Quando o inimigo é fraco, ele perde o espírito de luta ao se ver cercado como o ladrão preso na casa. Sun Tzu diz, quando a vantagem for de 10 para 1, cerque-o por todos os lados.
23 – Fazer amizade com o distante e atacar o próximo. Formar alianças estratégicas com sócios distantes para atacar um concorrente local.
Exemplo: uma companhia pode fazer parte de uma aliança internacional com outras companhias, e com isso obter vantagem sobre o concorrente local.
24 – Passagem emprestada para atacar Guo. Utilizar algum recurso de outrem, como uma passagem por dentro do território, para atacar o inimigo. Na estratégia 3, matar com uma faca emprestada, é o terceiro que faz a ação, agora na estratégia 24, sou eu que faço a ação, e o terceiro apenas empresta recursos.
Exemplo: vender o seu produto com a marca de outra companhia, para “pegar emprestado” o nome desta.
Estratégias de Dissimulação (25 a 30)

25 – Substituir vigas e pilares por outros inferiores. Alterar estruturas importantes, como vigas e pilares, por materiais de qualidade inferior, e com isso enfraquecer o inimigo.
Exemplo: Uma vez comprei um carro, que tinha uma lataria muito bonita. Alguns meses depois, problemas começaram a acontecer. O carro ficava acelerado, por conta de uma pecinha que tinha quebrado. A vidro elétrico também quebrou. Depois, o para-brisa. Debaixo da aparência, peças inferiores.
26 – Apontar para a amoreira, mas repreender a acácia. Consiste em repreender indiretamente, utilizar alguém fraco para mandar a mensagem para alguém forte. Uma variação desta estratégia é “Matar a galinha para assustar o macaco”.
A galinha é muito mais fraca do que o macaco, e matar a galinha tem como objetivo controlar o macaco.
27 – Fingir-se de louco, mas manter-se são. É melhor fingir que não sabe e não tomar providência do que fingir que sabe tudo e se meter em um situação que não é possível contornar. Melhor fingir-se tolo numa situação difícil e se preparar para um momento posterior.
O imperador romano Cláudio era figura pouco destacada. Era coxo e gago. Não demonstrava nenhuma aptidão política.
Quando os legionários assassinaram o seu predecessor Calígula, encontraram Cláudio escondido atrás de uma cortina. Cláudio foi poupado, porque parecia bobo, inepto, daria um imperador fantoche perfeito.
Mas, por trás da aparência, Cláudio era um homem estudado, bem educado, brilhante governante e estrategista, retomando o poder quando as circunstâncias foram favoráveis.
O seu governo foi brilhante na parte política e militar.
28 – Tirar a escada depois que o inimigo subir no telhado. Utilizar iscas para atrair o inimigo para uma armadilha. Quando ele estiver subido no telhado, tirar a escada, deixando-o sem saída.
29 – Cobrir a árvore de flores. Melhorar a imagem de algo, para passar uma impressão diferente da real. Popularmente, enfeitar a noiva para o casamento.
Um exemplo muito comum é o IPO de companhias. Os executivos, muito interessados em fazer a abertura de capital e embolsar uma pequena fortuna, fazem de tudo para que a imagem e as contas da empresa pareçam boas, muitas vezes cortando gastos de curto prazo e criando problemas de médio e longo prazo com isso.
30 – O convidado no papel do anfitrião. Quando o anfitrião é fraco, e o convidado, forte, este assume o papel de anfitrião e conduz a cerimônia.
Exemplo. Entrevistas com políticos experientes. Independente da pergunta que o jornalista faz, o político vai responder o que for melhor para ele.
Estratégias Desesperadas (31 a 36)

31 – A trama da beleza. De forma geral, significa focar no ponto fraco do inimigo. Até mesmo os mais poderosos generais (homens) são muito manipuláveis por mulheres bonitas e charmosas.
Exemplos abundam na história. Sansão derrotado por Dalila, Betsabá conquistando o coração de Davi – e colocando o seu filho Salomão no trono, Cleópatra, Helena de Troia, etc…
32 – A trama da cidade vazia. É uma estratégia desesperada, para confundir o inimigo.
Vem de uma história ocorrida com o grande estrategista Zhuge Liang KongMing. Ele estava encurralado pelo inimigo, e fez algo completamente inesperado: simplesmente abriu os portões da cidade, e passou a varrer a entrada, calmamente.
O oponente, que já tinha caído em várias armadilhas de KongMing, desconfiou de alguma trama, e desistiu do ataque.
Para esta estratégia funcionar, deve-se ter bastante conhecimento psicológico sobre o oponente.
33 – A manobra do agente duplo. Utilizar o próprio espião do inimigo para disseminar informações falsas.
Sun Tzu dedica um capítulo inteiro da Arte da Guerra para o conceito de espionagem. Aqui nas 36 estratégias, não é diferente, informação e contra-informação são a forma de saber o que está acontecendo e planejar ações.
34 – O método da autolesão. Causar dano a si mesmo, como forma de ganhar a confiança do inimigo. Exemplo de um general chinês, que amputou o próprio braço para dizer que tinha sido traído, mas na verdade era apenas um engodo para se infiltrar entre os oficiais do inimigo.
35 – Manobras interligadas. Utilização conjunta, serial ou paralela, das estratégias descritas acima. Saber cada uma das estratégias é bom, mas saber qual utilizar, quando, onde e como, é a verdadeira Arte da Guerra.
36 – Fuga – a melhor trama. Se nada mais dar certo, fugir é uma excelente opção. Não há nada de errado em se retrair hoje, para poder batalhar amanhã.
Conclusão
Os 36 estratagemas é um dos tratados de guerra que são referência na história da humanidade. Fiel ao estilo chinês, as estratégias são descrições simples (originalmente escritas em 4 caracteres), metafóricas, mas de significado profundo se compreendidas em sua essência, e devastadoras quando aplicadas.
Há inumeráveis outros exemplos de uso, que abordo de quando em quando neste espaço, e continuarei abordando, pelo tema ser muito rico, e pelo ser humano ser extremamente complexo.