O PINCEL E A ESPADA
Aspectos Culturais do Kung Fu
O Mestre disse: “É por retomar o antigo que se aprende o novo e, assim, nos tornamos mestres”. (Os Analectos, 2: 11)
Confúcio
O que diferencia o Kung Fu das demais artes marciais são exatamente os fundamentos intelectuais e culturais. Tradição é importante. Escrevemos num computador, mas é necessário saber escrever com a caneta também.
Kung fu e cultura – o paradoxo
O Kung Fu trabalha com o conceito de Wu Tao (caminho da guerra). Trilhando a via da guerra devemos desenvolver diversas manifestações da arte e ciências humanas. Na China, para ser considerado Mestre (Shi Fu), deve-se demonstrar boa formação. Dos diversos conhecimentos temos a Filosofia, Medicina, Caligrafia, Pintura, Poesia, Música, artesanato em geral e comportamento. É claro que o treinamento é o principal, mas não poderíamos chamar de Kung Fu somente um punhado de golpes para atingir o adversário. O Kung Fu transcendeu a esses estreitos limites há séculos.
Quais são as manifestações culturais que se relacionam de alguma forma com o Kung Fu?
Na música temos tradicionalmente a flauta (Zen do sopro), o toque do tambor na dança do leão e o Er Hu (típico alaúde).
No artesanato a própria manufatura dos leões, a manutenção das armas, criação e confecção de placas de madeira com o nome das escolas e a fabricação das roupas.
Na caligrafia, as tradicionais escrituras com pincel (Xu Fá) são afixadas nas academias (geralmente poesias), ideogramas são feitos nas bandeiras. Diz a tradição que conhecemos um bom Kung Fu através da caligrafia. Um esgrimista não treme as mãos e um calígrafo não desenvolve agressividade em excesso. A espada (ou Punhos) e o pincel são opostos que se complementam. São Ying e Yang.
Na poesia, os fundamentos de Kung Fu são transmitidos através de poemas e homenagens póstumas também. Devemos homenagear companheiros e mestres que partiram através de nossa expressão dos sentimentos.
Ensinamentos técnicos também são recitados em voz alta pelos praticantes de Kung Fu enquanto repetem as formas (Tao Lu). Poemas também são utilizados em convites e certificações.
A filosofia e literatura clássica chinesa influenciaram grandemente o desenvolvimento desta arte marcial. Os fundamentos teóricos são explicados através do Tao. Os conceitos de ética, moral e comportamento são herdados de Confúcio. As buscas sobre o autoconhecimento e espiritualidade são típicas questões desenvolvidas e estudadas pelo Budismo.
Medicina Tradicional Chinesa – Um bom mestre de Kung Fu é aquele que além de saber quebrar (com golpes) sabe consertar (com medicina). Mestres de Kung Fu geralmente dominam alguma área da MTC (Medicina Tradicional Chinesa) como a acupuntura, moxabustão, fitoterapia, massagem, ventosas e Chi Kung. Os conhecimentos sobre fisiologia Zhang Fu (cinco órgãos e seis vísceras), o caminho dos meridianos, pontos críticos de energia e anatomia facilitaram o desenvolvimento de pontos energéticos fatais. O Dan Xie, ou pontos de energia, são golpeados enquanto a energia passa por ele. Tais pontos podem apenas atordoar, causar sangramento, hemorragia, convulsões ou até mesmo levar à morte.
Diz-se que um verdadeiro Mestre deve saber onde são estes pontos, como golpeá-los corretamente e como tratar alguém que recebeu um golpe em tal local. Além disso, os pesados treinamentos geralmente causavam lesões e um Shifu (professor) prevenido deve saber como cuidar de seus alunos.
Feng Shue – Conhecimentos de Feng Shue para a decoração do interior da escola e posição interna também são importantes. Na escola de Kung Fu (Mo Kwoon), existe o lugar correto para a colocação das armas longas, armas curtas, santuário da família e mestres, plantas ornamentais e imagem do General Kwan (Deus da guerra e da literatura, conhecido também por ter sido general e ministro da justiça – hoje o protetor da arte marcial).
As posições dos móveis são determinadas seguindo a teoria dos cinco elementos (metal, fogo, água, madeira e terra), cinco animais (tigre, fênix, tartaruga, serpente e dragão), Ying Yang e Ba Gua. Diz a frase: “em Feng Shue devemos esconder o Tigre e mostrar o Dragão”.
O Xiong Xi ou Xadrês chinês e o Go ou Wei Chi desenvolvem o senso estratégico e tático no indivíduo, além de ampliar e otimizar o raciocínio, aumentam a percepção e o despertar a coragem.
O Chá Tao – Caminho do Chá – desenvolve nosso poder de concentração. Aprendemos com o chá a sentir prazer nas pequenas coisas da vida como ferver a água a uma temperatura correta, observar a erva se decompondo no bule e, posteriormente, a percebermos no suave aroma e sabor da bebida.
Artes como a pintura (Xu Y Mo), Bonsai (Pen Jin) e Ikebana (Hua Tao- caminho das flores), despertam a sensibilidade que um praticante dedicado às artes marciais talvez perca após anos de árduo treinamento.
Com a prática do Chi Kung (Nei Tan – alquimia interna) desenvolvemos nossa energia interna, intuição, concentração e até mesmo capacidade paranormais. O Yôga taoísta juntamente com a filosofia clássica chinesa nos auxilia a compreender melhor o universo, nos livra de doenças e nos cura delas, além de auxiliar no autoconhecimento.
Chi Kung – Como foi mostrado anteriormente, o Kung Fu é desenvolvido juntamente com as diversas disciplinas chinesas. Separá-las dele é impossível e o tornaria distante de suas verdadeiras raízes.
O estudo do Kung Fu como caminho (Tao) exige que o praticante saiba reconhecer atributos de Tao e Dharma. Tais estruturas de pensamento pouco (ou nada) têm a ver com religião. Tao é o Grande Caminho, Dharma – a Grande Lei.
Enfim, Tao é o caminho que o homem deve seguir se ele procura realizar-se enquanto ser humano.
Confúcio (551-479 a.C.), vivendo numa época de constante guerra, de caos político e social (a chamada Era dos Estados Combatentes – quando todos os valores humanos estavam desmoronando, esquecidos, desprezados), procurou restaurar a harmonia, a ordem e o amor na sociedade.
Em meio a esses conflitos, ele empreendeu o resgate do estudo dos ritos e dos grandes Reis e dedicou sua vida a buscar um ideal e uma realização: ser conselheiro de um grande Rei e governar para a paz.
Para tanto, compilou as obras mais importantes dos escritos antigos (datadas de até dois mil e quinhentos anos antes de Confúcio), reorganizou-as e editou-as de acordo com seus princípios. E depois de sua morte, esses pensamentos têm predominado na cultura chinesa até hoje.
É o mesmo Confúcio quem nos Analectos proclama o valor da lembrança dos ensinamentos dos Antigos. “Eu não nasci sábio. Gosto da sabedoria dos antigos e busco neles para o meu ser”.
O que o Mestre afirma, portanto, é que não inventou nada, mas sim aprendeu com os antigos, e aquele que também assim fizer, será sábio: “É por retomar o antigo que se aprende o novo e, assim, nos tornamos mestres” (Os Analectos, 2: 11).
Não se trata, porém, de “conservadorismo”. De acordo com o “Livro da Harmonia Perfeita”, a recordação dos Antigos é condição para o progresso.
É por respeitar a natureza virtuosa que o homem verdadeiro dedica-se a aprender o Tao.
Os Ritos – Neste tópico cabe fazermos o seguinte questionamento: qual o sentido dos ritos que, no Oriente não são rituais vazios, mas sim uma prática preocupada em ajudar a retomar memória do ser humano esquecente?
Segundo Confúcio os ritos são importantes e honrados. Para ele, os ritos nada têm a ver com religião. “É realizando os ritos que aprendemos o conhecimento do Passado”. (Confúcio)
E no âmbito pessoal, no cotidiano, também devemos recordar quem somos, o que fizemos e o que queremos. Nesse sentido é importante que reflitamos todos os dias sobre o que deixamos de aprender ou sobre nossos erros e falhas. Disse Tsi-Hah: “Perceber a cada dia o que se perdeu (pelo esquecimento), e se em um mês não esquecermos daquilo que aprendemos, podemos afirmar que isto é gostar de aprender. (Os Analectos, 19:5)”.
“Aquilo que o Céu confere é chamado” natureza”.
O que está em harmonia com a natureza é chamado Tao.
O cultivo do Tao é chamado pedagogia “.
As artes marciais quando se afastam do Zen e do Tao transformam-se em um conglomerado de golpes vazios. Observando mais minuciosamente isto acaba simplificando por demais as artes de combate orientais, particularmente o Kung Fu.
Antes de concluirmos que a civilização ocidental pode ou deve dispensar os métodos de pensamento orientais devemos nos perguntar. O que é filosofia oriental? Logo em seguida devemos ter conhecimento que o Kung Fu (Wu Shu) é um dos grandes veículos de prática do pensamento clássico chinês.
As cinco qualidades do sábio segundo Confúcio:
Honestidade, cortesia, benevolência, sabedoria e fidelidade.
As artes chinesas
- Caligrafia
- Pintura
- Poesia
- Música
- Xadrês
- Wei chi
- Damas
- Mah Jong
- Arco e flecha
- Arquitetura
- Escultura
- Bronze
- Cerâmica
- Nós
- Corte papel
- Hua tao – caminho das flores
- Ben jin – bonsai
- Cerimônia do chá
- Literatura
- Astrologia
- Numerologia
- Arquitetura
- Marcenaria
- Feng shue
- Dança
- Carimbo
- Matemática
- Geologia
- meteorologia
- aritimética
- Física
- Química
- Alquimia
- Geomancia